Eu já fui homem? Socialização Masculina?

22:10

Foto: Google.
Eu já fui um garoto?

Então, um questionamento frequente que me fazem é “… e quando tu era um garoto?”, vamos lá.

Eu NUNCA fui um garoto, eu nunca fui homem e eu nunca tive SOCIALIZAÇÃO MASCULINA, eu nasci em uma sociedade onde nunca me foi perguntado como que eu me identificava e onde nunca me foi dado liberdade de me expressar como queria e etc.

Não importa com qual genitália eu nasci/tinha/tenho, com qual nome já me chamaram, quais roupas eu já vesti, entre outras coisas.Vamos esclarecer alguns mitos a partir disso.

1- Mas seu nome era “Fulano de tal”.
Fui eu que escolhi esse nome? Eu me identificava com esse nome? Não! Nome nenhum me faz menos mulher, afinal ser mulher não é uma palavra, um nome.

2- Mas você vestia roupas “de homem”.
Primeiro de tudo, roupas NÃO TEM GÊNERO, não julgue o gênero ou sexualidade de alguém baseado na roupa que ela(o) está vestindo, você vai estar sendo apenas um babaca, as pessoas usam as roupas com quais elas se identificam, gostam, se sentem confortáveis.

3- Mas você nasceu com um pênis (mulheres trans)/ vagina (homens trans).
Onde que minha genitália interfere na minha identidade de gênero? Desde quando o seu gênero está na sua genitália e não na forma como você se ver, se sente, se expressa, quer ser visto(a) e etc? 
Meu gênero tá no meu cérebro, no meu coração, na minha alma, na minha forma de me ver, na forma que eu quero que a sociedade me veja, na forma como eu me sinto e me amo.
Genitália NÃO DEFINE gênero.

4- Mas você foi homem boa parte da sua vida, você tem socialização masculina e privilégios de homens.
Não considero socialização masculina a experiência dolorosa de estar sendo reprimida, agredida a cada momento em que tentei, desde pequena (segundo lembranças da minha mãe desde os 3 anos de idade) expressar meus desejos, falas, sensações enquanto mulher.  

A cada desenho animado minha identificação era com os personagens femininos, os presentes que eu pedia, sempre, pertenciam ao universo feminino (segundo as determinações heteronormativas) e isso tudo me era duramente negado. 

De verdade, a socialização que vivi foi de negação da minha essência, dos meus desejos de fala, comportamento, brincadeiras, emoções... O tempo todo agredida pelos mais singelos gestos que sempre expressavam meu ser feminino.  

Minha identidade não pode ser deslegitimada, mais uma vez, por leituras de pessoas que não conhecem a realidade vivida por pessoas trans. Sou mulher, sempre fui, sempre serei.  

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