Foto de: Lucas Coelho. |
Obrigada pelo texto Carlos, amei e passou toda minha história na minha cabeça, achei lindo!
Esta semana conheci no YouTube a mulher mais poderosa que já vi na minha vida: ela se chama Anne. E este adjetivo “poderosa” é o mais amplo possível porque além de ser uma mulher incrível e linda, ela é uma guerreira. Nunca vi tanta coragem numa pessoa só.
Que orgulho a mãe de Anne deve ter dela. E com certeza este sentimento é recíproco, pois Anne não poderia ter uma mãe melhor, que entende ela e que a acompanha em palestras, na psicóloga, na endocrinologista, em qualquer canto que Anne for, sua mãe vai estar lá.
Mas Anne precisou sair de casa e ir bem longe, até mesmo fora do alcance da proteção de sua mãe para ser quem ela é. Não que ela precisasse fugir, mas em outro País seria um pouco menos difícil, pois lá ninguém conheceria a pessoa que ela nunca foi, até os seus 16 anos.
Sair de longe da barra da saia da mãe, foi outra atitude de muita coragem da Anne. Ironicamente, foi longe de seu porto seguro que ela pode finalmente sair do casulo e se transformar aos poucos numa linda Borboleta.
Uma Borboleta que só quer voar e ser ela mesma.
Longe do Brasil, Anne pôde finalmente sair da mira dos olhares que julgam e dos dedos que apontam. Das risadinhas veladas e até das vozes que ofendem. Uma vez na escola, Anne foi aos prantos quando um “valentão” da sala bradou para que toda turma ouvisse “Ela ou Ele?”.
O valentão, que na verdade é um grandíssimo covarde, pois queria fazer graça, queria ser aceito na turma de machões, julgando Anne. Na cabeça de Anne nunca houve dúvidas de quem ela era, o problema é que a
Sociedade costuma ser binária, ou seja, ou é isso ou é aquilo. A sociedade não lida bem com as nuances da sexualidade.
Quando um bebê nasce, já se marca com uma pulseirinha azul ou rosa. É menino ou menina. Tem Pênis ou têm Vagina. Pronto! Como se a sexualidade humana se resolvesse com a simplicidade matemática do 1 + 1 é igual a 2. A sexualidade, muito pelo contrário, é extensa, é rica, é inexata. Anne explica bem em seus vídeos, que o que há no meio das pernas das pessoas, não define em hipótese alguma o que a pessoa é. Além disso, uma pessoa trans pode ser hetero ou não. Gênero e orientação sexual são coisas bem diferentes. Por toda esta gama de variedades, o ser humano é tão rico e complexo. Felizmente somos tão diferentes uns dos outros.
Já pensaram que marasmo seria se todos fossemos iguais? Mas a sociedade hipócrita e conservadora quer isso. Faz bem para ela ter todas as respostas. Se alguém surge como diferente. Isso choca e gera descontentamento, pelo simples motivo de despreparo de lidar com o diferente. Esquecem que esta diferença é o grande charme da humanidade.
Anne é uma mulher jovem, ainda com jeitinho de menina, que tem novas datas de aniversário! Sim, porque aquela de nascimento, quando lhe deram a pulseirinha azul na maternidade nunca lhe representou pra valer.
No dia 25 de agosto de 2014 (apropriadamente o dia do soldado) essa guerreira mudou-se para os EUA para seu intercâmbio, e iniciava ali sua transição. Era a saída da Borboleta do seu casulo. Que felicidade poder ser, aos poucos, quem ela sempre sonhou!
Já pensou se negássemos a todas as meninas o direito de usar cabelo comprido? E se fosse proibido a estas mesmas meninas em usar esmaltes nas unhas? Imaginem que repressão seria se meninas fossem sempre obrigadas a usar roupas ditas masculinas, incluindo cuecas. Seria uma tortura, certo? Maquiagem então nem pensar! Não pode brincar de boneca! Vai ser igual seus primos e jogar futebol! Vai fazer coisas de menino!
Não dá pra imaginar né?
Mas pra Anne isso tudo era “proibido” até o dia 25 de agosto de 2014. Não porque sua família fosse repressora, mas porque a sociedade impõe esta definição baseada nos órgãos genitais. Ou seja, nasceu com pênis: parabéns, você passará o resto da vida com o rótulo de Homem. Mas e se a pessoa tiver um pênis mas se sentir Mulher? Como é que fica?
Anne, esta menina completamente normal e completamente feminina, que gosta de coisas normais para uma garota da sua idade, teve que lutar e enfrentar seus piores medos para ser simplesmente Anne. Lutar para quebrar este grande paradigma. Calma aí! Você nasceu menino e quer ser menina? Não! Você sempre foi do sexo feminino! Só que este era um segredo seu e que agora todos precisam saber. É questão de respeito!
Ter uma família compreensiva e amigos também, ajudaram, mas não pensem que foi fácil. Cada batalha, fez de Anne uma mulher mais corajosa em busca de sua felicidade. E ninguém neste mundo tem o direito de estragar a felicidade dela. Assim como de nenhuma outra trans.
A propriedade com que Anne se expressa, faz dela uma ativista pelos direitos trans. Anne é uma mulher culta e que buscou toda forma de conhecimento, primeiro para se auto conhecer e, agora, para falar com toda propriedade sobre a causa Trans. Anne é sim uma porta-voz da causa LGBT com ênfase aí neste T que é infelizmente tão marginalizado.
Anne é engajada nesta luta e sua força faz com que todas as mulheres trans, de qualquer idade, se sintam representadas. É o que se chama hoje de “empoderamento”. Anne é muito poderosa. Ela transborda atitude, conhecimento, coragem e força. Minha vontade era de ficar em pé aplaudindo os vídeos da Anne! É lindo ver a naturalidade com que ela fala de temas tabus.
Poucas mulheres no mundo tem a delicadeza de Anne para abordar temas difíceis, porém sem subterfúgios.
Anne é direta em suas opiniões, com o carisma de quem sabe do que está falando. Anne é simplesmente ela.
Não há personagens. Doa a quem doer. Anne é delicadamente devastadora. Impossível ver seus vídeos ou ler seu Blog sem sentir a porrada que são suas palavras. É um delicioso soco no estômago da sociedade preconceituosa e transfóbica.
Escutem Anne e teremos uma sociedade mais evoluída e compreensiva. Ser uma mulher trans não faz de
Anne em absolutamente nada diferente de uma mulher “cis”. Quisera muitas mulheres representarem tão bem o conceito de mulher na sociedade.
Que sorte da mãe da Anne em tê-la como filha! Que força tem estas duas mulheres!
No dia 25 de março de 2015, Anne iniciou seu tratamento hormonal, para bloquear a puberdade masculina e receber os estrogênios que darão ao corpo dela os contornos de acordo com sua cabeça e sua alma. Mera formalidade. Ela sempre foi mulher, mas estas mudanças que estão acontecendo em seu corpo, são o ápice de sua plenitude.
Que sorriso lindo tem Anne, ela é hoje uma mulher muito feliz. Ela merece ser feliz. E a sociedade precisa de mais mulheres como a Anne. Esclarecidas e corajosas.
Seja muito feliz sempre Anne! E obrigado por ter lutado por ser você. Toda a humanidade ganha com a sua força e faz cada um acreditar nos seus sonhos e lutar por eles.
Anne, tudo que você quiser, você vai alcançar. Voa Borboleta!
Esse texto foi o Carlos Albuquerque que me enviou através da página "Alice Júnior", o filme que vou protagonizar.
Obrigada pelo texto Carlos, amei e passou toda minha história na minha cabeça, achei lindo!
- 17:30
- 1 Comments